quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Chocolate amigo



Gostaria de compartilhar esta redação que achei muito interessante, foi publicada pela FUVEST como tendo sido uma das redações nota 10 do vestibular 2007. A Fundação para o Vestibular não divulga o autor.


Embora o texto seja sério e reflexivo, não pude deixar de pensar no stress e na revolta que o(a) cidadão devia estar ao fazer a prova em um domingão de janeiro com todo mundo curtindo férias e Ano Novo!


Chocolate amigo
Amizade é uma palavrinha bonita, e apenas isto. Inventada por floristas e fazedores de cartões enfeitados de corações e poemas hipócritas. Usada em discursos românticos, sem significado algum, completamente banalizado.
A maioria das pessoas fala de sentimentos como amor ou amizade com um orgulho desmedido e inexplicável facilidade. Falam porque tê-los é o que se espera do ser humano, e parece sensível e legal. Mas boa parte delas mal sabe o que tais palavras significam, e acaba soando frio, superficial e possessivo. De fato, muitas vezes, parece que estamos falando de um simples chocolate.
O chocolate, como bem sabemos, é um petisco engordativo que geralmente proporciona grande prazer. Talvez prazer maior que um amigo; afinal ele não nos decepciona – a não ser que esteja errado – não mente, não faz competições primitivas, não é egoísta e só nos abandona quando decidimos devorá-lo. Porém, também é sabido que chocolates não devolvem ou demonstram a devoção e sentimento que reservamos para ele, seja qual for.
Ele não sente, não pensa, não fala... não é seu companheiro, não apóia, não segura a mão... portanto, não pode de maneira alguma ser um amigo; entretanto, é assim que temos tratado nossos amigos: como chocolates.
É bem fácil dizer "meu melhor amigo" como quem diz "minha barra de chocolate preferida", uma propriedade sem sentimentos que você pode declarar adoração e fidelidade sempre que tiver vontade porque ele não entende e nem vai morrer quando não lhe for mais conveniente continuar a "amizade".
Pois somos todos pessoas, seres humanos; egocêntricos, dissimulados e egoístas. Só enxergamos a própria vontade e acreditamos que cada um de nós é o único que pode ser magoado. Mantemos relações e gostamos das pessoas e coisas quando e enquanto for conveniente. Usamos e pisamos nos nossos "amigos"...
... e nos escondemos. Atrás de músicas, poemas, declarações e discursos sobre sentimentos que sabemos não ter.

Autor desconhecido (mas tirou 10 nesta redação na Fuvest 2007)


Mandei para alguns colegas por e-mail e todos gostaram. Mas um escreveu uma resposta que eu gostei muito e faço minhas as suas palavras:

"Ao ler o texto, fui moldando o tipo de pessoa que poderia estar de posse da caneta naquele momento, no instante que, escolhido por ela mesma, estava se privando de um domingo de sol de janeiro por uma carreira....(será que não valeria a pena????)

Vi uma pessoa amarga, bem mais amarga que alguns tipos de chocolate, que prefere a companhia de uma pequena barra negra ao branco sorriso de um amigo, sua consistência dura e gelada ao suave toque de mãos.

Uma pessoa que por ela mesma se sente discriminada, não pela aparência, mas pelas próprias atitudes de ferir indelevelmente os sentimentos dos amigos com uma língua ferina e preconceituosa, assustadoramente fria.

Como texto e construção gramatical, realmente a redação é nota dez, mas como estilo de vida não me serve de jeito nenhum... e também não espero receber nenhum dez pelo meu texto.... rs"


Abraços da


**** Anita ****

9 comentários:

  1. Muito bom encontrar essa redação aqui... em 2009, foi lida por meu professor de redação e eu a AMEI de cara! É linda, diz bem o que acontece hoje em dia... sentimentos e palavras banalizados.
    Parabéns pela postagem!

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  2. eu to tentando faze uma critica a esse texto mais não consigo,poiz é um ecelente texto

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  3. A um tempo atrás fiz uma redação desse tema aí, mas fiz treinando, não estava lá no dia da prova fazendo não. Aqui (esta no yahoo respostas)

    http://br.answers.yahoo.com/question/index;_ylt=Aigxzu0kx20KgNdCnw8TwEXI6gt.;_ylv=3?qid=20100522134107AAmMyCX

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  4. http://br.answers.yahoo.com/question/index;_ylt=Amrmed_XwOEo7HWMUk59i9PI6gt.;_ylv=3?qid=20100524195148AAuE1nW

    Revisei a minha de novo. Encontrei o seu blog pq simplesmente busquei por essa redação do chocolate amigo e vim parar aqui.

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  5. Sou fã do autor. Pena que não sei quem é, o que me impossibilita de cumprimentá-lo pessoalmente..
    Mas só para constar, o tal comentário do cara do e-mail é simplesmente ridículo.

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  6. O cara que escreveu comentario do e-mail realmente não entendeu o que o texto quis dizer...
    O autor do texto não disse que amigos eram como chocolates e os tratava como tal... ele quis dizer que hoje em dia sentimentos como o da amizade são cada vez mais banalizados, e que cada vez mais as pessoas tratam amigos como tratam coisas sem importancia, como o chocolate, por exemplo. Ele até critica essa atitude em certo ponto:
    "Ele não sente, não pensa, não fala... não é seu companheiro, não apóia, não segura a mão... portanto, não pode de maneira alguma ser um amigo; entretanto, é assim que temos tratado nossos amigos: como chocolates."
    Ele diz que as pessoas falam "meu melhor amigo" com muita facilidade, e que muitas vezes nem sabem o significado e o valor de uma amizade verdadeira.

    Por tanto, tudo o que o cara disse no e-mail, não tem absolutamente nada a ver com a redação.

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  7. Sim,o tal comentário do cara do email é simplismente ridículo.
    Quando li a redação pela primeira vez, senti total enqudramento no raciocínio lógico do autor. Depreendi de cara que ele analisou o mundo como é hoje (sempre foi): falso e hipócrita, e que o autor não é avesso à amizade. É, de fato, um dos maiores defensores dela - sentimento que não está ligado à: "Mantemos relações e gostamos das pessoas e coisas quando e enquanto for conveniente".
    No meu ponto de vista, para o autor, a amizade verdadeira, a que não é traduzida em expressões que se bazalizam, segue a linha machadiana no tocante que: "não é amigo aquele que alardeia a amizade; é traficante; a amizade sente-se, não se diz."
    Só para não enfadar; o autor é austero, e não amargo. Se assim o fosse, todos os neorrealistas (drummond e campanhia) deveriam ser taxados de amargos e depressivos.

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  8. Adorei o texto. Apenas não concordo com a opinião da Anita, não acho que seja possível afirmar essas coisas de uma simples redação. No vestibular o seu objetivo é tirar uma nota dez, e não tentar se expor

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  9. A crítica do e-mail soa um tom invejoso.
    A redação está ótima, tirou 10 mesmo usando um raciocínio contrário ao das massas.

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