domingo, 25 de abril de 2010

Reflexões

Imagem: Escultura "O Pensador", de Rodin

Hoje foi um dia em que tive a oportunidade de ver o passado passear diante dos meus olhos. E pude agradecer a Deus porque, enfim, é passado.

Não, não que eu tenha apenas um passado ruim. Todos nós temos boas e más lembranças. Mas vi, como em um filme, muitos erros que cometi, muitos sonhos não realizados, por bem ou por mal, e muitas lições que a vida me ensinou. E isto, também, me fez refletir bastante.

Quando estamos em uma situação melhor, costumamos esquecer as mazelas e o que elas nos ensinaram. As dificuldades não existem apenas para serem difíceis: são verdadeiras oportunidades de crescimento pessoal.

No fim do ano 2000, eu estava em um beco sem saída. Quer dizer, não posso dizer SEM SAÍDA pois para Deus nada é impossível, e se ELE quisesse me mostrar que é possível criar um caminho do NADA certamente O teria feito. Já havia passado nas melhores faculdades; poderia ter um futuro promissor, mas vivia num círculo vicioso atrás do próprio rabo, sem conseguir concluir nenhuma tarefa que começasse. Tudo por não agüentar mais o stress de viver uma montanha russa emocional. E Deus, tenho certeza disso, tinha tudo sob controle.

Então um dia a corda arrebentou. Primeiro foram crises de síndrome do pânico, que primeiro foram diagnosticadas como uma falha da válvula mitral. A verdade veio à tona quando comecei a alternar períodos longos de sono com outros sem dormir. Cheguei arrasada, moída ao hospital, pedindo que alguém parasse com aquilo, pois eu não conseguia mais parar. Havia passado uma semana inteira trabalhando, sem dormir, logo após um período de 4 dias de sono contínuo.


Começara minha longa jornada de tratamento psiquiátrico. Descobri que existiam N doenças ligadas ao stress, e a maioria delas começava com síndrome do pânico. Também descobri, de forma muito dolorosa, que as opiniões médicas variam muito, bem como os tratamentos. Mudei muitas vezes de médico, e quando não me agüentava mais, buscava alívio em internações. Tomei muitos remédios diferentes, alguns com tristes efeitos colaterais, como enorme ganho de peso, sem grandes melhoras. Me internei 4 vezes no total. Tinha esperanças de que, com algum médico me acompanhando 24h em um hospital, tivesse melhor êxito no diagnóstico e no tratamento. E isso aconteceu, felizmente, na quarta vez, há 3 anos atrás.

3 anos atrás. Foram quase 8 anos buscando, de consultório em consultório, de hospital em hospital, uma resposta e um alívio que me ajudassem a recuperar a vida perdida. Não conseguia estudar. Não conseguia fazer nada por completo. Agradeço todos os dias, porque sei que não mereço, sendo de carne mortal e pecadora como sou, a alegria de ter o médico certo e o melhor tratamento para recuperar a minha vida. E, quase na mesma época, também encontrei uma boa psicóloga, verdadeiro presente de Deus na minha vida.
Aprendi muito nas internações. Aprendi a ver o ser humano sob uma nova ótica. Eu fugia dos padrões de um paciente comum nestes lugares. Primeiro, por ser eu mesma a buscar a internação. Segundo, porque eu tinha noção de que algo estava errado e queria melhorar. Para minha sorte, isso atraía a atenção da equipe para descobrir o que estava errado comigo, e sempre fui muito bem atendida.

Eu sempre ficava doída de ver tantas pessoas internadas comigo, que estavam distantes da sua realidade. Sim, a maioria estava ali à força, nem poderia ser diferente, estando tão distantes da realidade. Alguns, os parentes não queriam mais, e haviam sido abandonados ali em definitivo. Mas eles realmente não tinham noção, em sua maioria, do que tinham feito de errado para estar ali, ou não achavam que tivessem feito nada demais. Os que sabiam que tinham “aprontado” viviam tristes, pois admitiam não conseguir parar de ter esse comportamento inadequado. O que mais me impressionava era uma ala à parte, com a qual não tínhamos o menor contato, mas da qual sempre ouvíamos as vozes e os gritos. Era de pacientes que, mesmo medicados, apresentavam riscos ao convívio social. Não respondiam a nenhum tipo de tratamento. Era de arrepiar. Agradeço sempre a Deus por termos pessoas neste mundo que dedicam suas vidas a cuidar de pacientes como nós.

Hoje, com o médico certo e o tratamento certo, tenho conseguido grandes resultados. Nem eu me lembrava mais de como era pior. Achava que a minha vida tinha estagnado. Mas, acostumada como estava a ter resultados rapidamente, hoje compreendo que a falsa impressão de estagnação vem da minha impaciência. Eu ainda tenho um longo caminho a percorrer pela frente. Mas é bom olhar para trás e ver que já ganhei uma boa distância.

Os remédios estão fazendo um grande trabalho. O mais duro está por conta da terapia: esta, tem que ser compreendida e trilhada passo a passo. E eu, que tenho mania de pular a teoria e ir direto aos exercícios, estou tendo que aprender a controlar a minha sede de vencer. Afinal, tudo acontecerá no tempo que Deus determinar, não no meu.

Eclesiastes 3
1
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
2
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
6
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
7
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Fonte: http://www.bibliaonline.com.br - edição Almeida Corrigida e Revisada Fiel

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