segunda-feira, 22 de março de 2010

Por que gostei do Runescape e seu uso educacional (em todas as idades)




Imagem: um dos desafios da missão "A vassoura encantada": tire 4 linhas do desenho, de  modo que forme apenas 4 triângulos (fácil).

AVISO: ESTE ARTIGO É LONGO - Leia com tempo. Valerá a pena.

Hoje vou falar um pouco de um jogo online chamado Runescape, da Jagex Ltd., empresa inglesa que já lançou diversos sucessos de jogos online em todo o mundo. Muitos já devem ter ouvido falar, seja pelos seus filhos ou alunos, de jogos como War of Warcraft, Gunbound, Lunia, entre outros games desta mesma empresa. Nestes outros jogos não vou dar pitaco, nunca joguei qualquer um deles, mas sei que todos seguem a mesma linha mestra - o RPG (Role-Playing Game).

Então, para as pessoas que nunca jogaram ou viram o que é um RPG (como eu até pouco tempo atrás), muitas vezes por influências negativas (o RPG foi considerado perigoso na década de 90, o que só foi desmentido posteriormente) faço um apêndice para melhor compreensão deste artigo. Uma excelente descrição de como é uma partida de jogo de RPG e como funciona está no Wikipedia (aqui, resumi ao essencial para o entendimento deste artigo). SE VOCÊ JÁ SABE E ENTENDE DE RPG PULE PARA O 7° PARÁGRAFO DESTE ARTIGO.

"O RPG é um jogo pouco convencional quando comparamos aos jogos habituais. Em um teatro, os atores recebem seu guião (ou "script"), o conjunto de suas ações, gestos e falas, com tudo o que suas personagens devem saber e fazer. Você interpreta uma personagem de ficção, seguindo o enredo definido em um roteiro. Num jogo de estratégia, por outro lado, você está seguindo um conjunto de regras onde, para vencer, você precisa vencer desafios impostos por seus adversários - cada partida é única, já que é impossível prever seus movimentos durante o jogo. No RPG, esses dois universos se unem.
Como em um jogo de estratégia, há regras que o definem, e guiam aquilo que o seu personagem pode ou não fazer. A esse conjunto de regras chama-se sistema. Como no teatro, cada personagem tem uma história, e deve ser interpretado assim como fazem os atores. Diferente de um jogo de estratégia, você não luta contra um adversário específico, mas vive aventuras em um mundo imaginário. Diferente do teatro, você não segue um roteiro, mas age pelo seu personagem com liberdade de ação, limitado somente pelo conjunto de regras do sistema em questão.



  Uma partida de RPG: jovens com seus livros e dados, prontos para mais uma aventura.
Fonte da imagem:  http://cronicasartonianas.blogspot.com/2007/10/o-que-e-rpg.html

O segundo tipo de jogador é o narradormestre ou GM (Game Master). Será ele quem criará a história e julgará as ações de todos os personagens do jogo. O narrador normalmente não possui um personagem próprio, mas controla todos os personagens não-jogadores da aventura - que seriam os coadjuvantes da peça de teatro. Enquanto o jogador tem uma atuação assemelhada àquela de um ator de teatro, o narrador seria o diretor e roteirista, aquele que define o cenário, figurantes, ambiente e tudo mais. Por isso mesmo, o narrador é aquele que deve conhecer as regras mais profundamente, e deve ser o mais experiente do grupo, normalmente seguindo um sistema de regras pré-determinado que o ajudará com os eventuais problemas e dúvidas que venham a surgir. Apesar do narrador seguir as regras de um sistema, ele pode quebrá-las, ignorá-las ou mudá-las em prol de uma fluidez no andamento da partida, baseando-se para isso no seu bom senso. Conhecer o máximo possível sobre o sistema facilita esse processo e evita arbitrariedades.
Em registros oficiais, o Role Playing Game ou RPG surgiu no ano de 1974. O primeiro lançamento foi o jogo Dungeons & Dragons(Masmorras e Dragões, em português), criado por Gary Gygax e Dave Arneson. No início, o D&D( abreviatura de Dungeons&Dragons), era um simples complemento para um outro jogo de peças de miniatura chamado Chainmail (cota de malha), mas terminou dando origem a um jogo totalmente diferente e inovador. Este primeiro jogo era extremamente simples comparado aos Jogos de Interpretação da atualidade e tinha uma origem influenciada por jogos de guerra/estratégia."

Bom, e onde entra a educação e o Runescape nisso tudo?

Ainda na década de 90, o sistema GURPS de RPG lançava o primeiro livro paradidático de RPG no Brasil,  "O desafio dos bandeirantes", sobre o folclore brasileiro. Também lançaram outro, baseado no filme nacional "No coração dos deuses" (trazia Antônio Fagundes como ator principal), que poderia ser jogado como aventura-solo. Então, professores de  história e geografia começaram a vislumbrar a possibilidade de fazerem seus alunos "vivenciarem" os fatos passados, para melhor compreensão e fixação dos mesmos. Um mundo de possibilidades educativas estava aberto, pronto para ser explorado com a criatividade de cada um.

Dois livros paradidáticos de RPG.
Imagens retiradas do Google Search (images).

Com a popularização dos computadores e da internet, gráficos mais poderosos acessíveis a todos e toda uma geração de estudantes conectada, surge então as comunidades online de RPG. Primeiro nas faculdades (vi comunidades de GURPS das faculdades da UNESP e de São Carlos na rede), e depois com os novos jogos MMORPG, classificação na qual o Runescape e os demais jogos da Jagex citados se inserem.

Novamente, utilizarei a definição do Wikipedia para esclarecermos este termo no artigo, antes de continuarmos:

"Um jogo de interpretação de personagem online e em massa para múltiplos jogadores (Massively ou Massive Multiplayer Online Role-Playing Game ou Multi massive online Role-Playing Game) ou MMORPG é um jogo de computador e/ou videogame que permite a milhares de jogadores criarem personagens em um mundo virtual dinâmico ao mesmo tempo na Internet. MMORPGs são um subtipo dos Massively Multiplayer Online Game (Jogos Online Massivos para Múltiplos Jogadores)."

Faço parte de alguns grupos de discussão online de educadores que utilizam o RPG como ferramenta de ensino, mas nunca tive a oportunidade de colocar a "mão na massa" antes de Runescape. Estou comprando todos os livros do GURPS, mas não é fácil achá-los. O GURPS  não foi o sistema de RPG mais famoso, por ser considerado "para nerds" e teve suas vendas descontinuadas pela editora Devir, representante de RPGs no Brasil. Mesmo o RPG mais famoso e jogado até os dias de hoje, o Dungeons&Dragons (ou D&D, como é popularmente chamado), não tem todos os seus livros vendidos aqui. Alguns, só são conseguidos em inglês e por encomenda.

Veja AQUI um fórum de RPG&Educação.

Mas voltando ao Runescape... aqui ele entra na história. E novamente a  Wikipedia nos dá a sua definição:

"RuneScape é um MMORPG (Massively Multiplayer Online Role-Playing Game) produzido pela empresa britânica Jagex Ltda. Foi criado oficialmente em 1998, por Andrew Gower. O jogo possui mais de 138.000.000 (Cento e trinta e oito milhões) contas criadas, e foi reconhecido pelo Guinness como o MMORPG gratuito mais famoso do mundo."

Ao entrar no site do Runescape pela primeira vez, você é convidado a ver uma prévia do jogo (o tema é épico, medieval; o tempo dos cavaleiros) e a fazer o seu cadastro, que pode ser gratuito (suficiente para mais de 5.000 horas de jogo entre missões e aventuras) ou pago (para os gulosos, mais de 15.000 horas de jogo). Até aí, nada de mais; após o cadastro, você faz o tutorial.

Página inicial do Runescape em português.
Foi alterada este mês em comemoração à nova habilidade, Dungeon, que pode ser praticada nas masmorras de Kalaboss. Na verdade, Dungeon exige que o personagem tenha desenvolvido suas outras habilidades, pois todas elas, junto com desafios de lógica e estratégia, serão testadas ao mesmo tempo em Kalaboss. Cada partida é única, não tendo como dois jogadores vivenciarem os mesmos desafios ao mesmo tempo separadamente. Pode ser jogado em grupos de 1 a 5 jogadores.
A imagem acima é propriedade da Jagex Ltd.

Enquanto você cria o seu avatar, que pode ser montado como o alter-ego desejado e realmente fará com que você se sinta no jogo, é possível ver algumas das diferenças étnicas: conforme você muda o tom da pele é possível notar algumas diferenças nas feições do rosto; o modo como o tutorial é conduzido, (onde o desafio é livrar-se de um dragão sem ser por combate) tudo te leva a pensar: " E se, ao invés de usar para esta finalidade, eu usasse para ensinar alguma matéria?" E sim, você consegue ver, em tempo real, como seria isso. Lá existe explicações básicas para habilidades como agricultura e caça. Também foi criada toda a história de Runescape, dividida em eras (o jogo começou na 5a era), com religião (deuses), geografia, costumes e idiomas diferentes nos países (qualquer semelhança com o mundo real não é mera coincidência), e mais. A diferença é que, diferente de outros jogos MMORPG, o Runescape já traz dentro dele desafios de raciocínio lógico, histórias conhecidas da literatura mundial, diferentes habilidades para desenvolvimento e EXIGE LEITURA, como todos os jogos de RPG.

Imagem da missão Romeu e Julieta.
A imagem acima é de propriedade da Jagex Ltd.
Uma das missões mais curiosas que já fiz dentro de Runescape, na cidade de Faladore (usuário pago), é para se tornar um cavaleiro templário iniciado. Durante os desafios, seus conhecimentos de física, química, interpretação de leitura e raciocínio lógico são testados. Seu avatar é testado em várias salas. Em uma delas, precisa utilizar qualquer coisa existente na sala para sair dela. Confesso que precisei de ajuda da internet para resolver a charada. Envolvia sulfato cúprico, bico de bundsen, pó de estanho, gesso, entre outras coisas. Em outra sala, um desafio no mínimo curioso: um cavaleiro abençoado não pode ser derrotado por nenhum homem, independente de sua habilidade em combate. A interpretação aqui é literal: apenas uma mulher pode derrotá-lo. Muito criativo também: muitas vezes me pergunto quem assessora a criação das missões. Isto tudo em apenas uma única das 270 missões atualmente disponíveis no jogo.

O seu avatar, ao chegar em Runescape, tem N possibilidades de desenvolvimento, desde virar um cavaleiro brutal ávido por batalhas até um expert em culinária. Atualmente existem 25 habilidades possíveis de serem desenvolvidas em Runescape (veja imagem abaixo). Algumas habilidades, como cortar madeira e pescar, permitem ao jogador extrair recursos que podem ser processados em outros items, consumíveis ou utilizáveis em outras habilidades, como fabricação de flechas e culinária. Os itens podem ser usados em outras habilidades ou vendidos para ganhar dinheiro. Outras habilidades permitem o jogador matar criaturas específicas (habilidade em extermínio), melhoram o nível de pesca, permitem a construção de casas próprias, e melhoram suas habilidades de combate (ataque, defesa, força, magia, combate a distância e evocação), entre outros.


Gráfico das habilidades de um jogador. Imagem modificada para explicação das habilidades.
Fonte: http://runescape.com.br
A imagem acima, mesmo modificada, é propriedade da Jagex Ltd.

Tudo é feito de maneira muito precisa, e quando penso que estes ingleses não irão me surpreender mais, sempre aparece uma novidade: semana passada, foi disponibilizada uma nova missão. Na semana retrasada foram atualizados os gráficos do jogo com a versão Java mais recente. E agora foi introduzida uma nova habilidade: Dungeoneering, ou Dungeon em português, possibilita testar todas as habilidades desenvolvidas no jogo junto com desafios de raciocínio lógico, que pode ser feito individualmente ou em grupo de até cinco pessoas.

Para todas as idades, considero o jogo excelente - embora seja recomendado para maiores de 12 anos, por exigir muita leitura, raciocínio lógico, estratégia e paciência, algumas atividades podem ser desenvolvidas de forma supervisionada. Por exemplo, a missão "Assistente do mestre-cuca" serve para tirar o cozinheiro do castelo do duque de Lumbridge de uma enrascada e aprender a fazer um bolo. E, na época medieval, isso significa que você não irá até o supermercado comprar uma caixinha de mistura pronta de bolo para assar em casa; ao invés disso, vai aprender onde ficam alguns galinheiros no reino, pegar ovos, onde ficam as vacas e ordenhá-las você mesmo, colher os grãos de trigo na plantação e levar ao moinho para moê-los e adquirir a farinha e levar tudo ao cozinheiro. Achei fantástico para pessoas de qualquer idade. Para os pequenos muita coisa pode ser ensinada andando e praticando as habilidades de Runescape, como pesca.


Aprendendo a pescar lula à moda indígena em Karamja (pesca de karambwan).
Fonte: http://www.runescape.com
A imagem acima é propriedade da Jagex Ltd.


Uma coisa importante também é que a Jagex mantém uma equipe que vasculha e bloqueia qualquer tentativa de utilização de "bots" ou "hacks" dentro do jogo: são programas escusos cuja promessa é fazer seu avatar desenvolver habilidades sem intervenção humana. Muitas vezes encontrados na internet, a maioria não passa de fraude. Mas alguns que de fato conseguem aproveitar uma falha de programação do jogo (bug) podem ser denunciados por qualquer jogador, em um botão incorporado à tela denominado "Reportar abuso". Estes jogadores são banidos e colocados em listas negras de fóruns e sites de jogadores mais conhecidos. E claro, a falha é verificada e corrigida.


Com isto, a Jagex procura garantir o que todos nós sabemos na vida real: nada pode ser conquistado sem muito trabalho e esforço. A varinha mágica não passa de um mito. E a "vida fácil" tem um preço que nem todos estão dispostos a pagar.

Ao desenvolver suas habilidades, melhores ferramentas podem ser usadas e mais ações e objetos vão ficando disponíveis gradualmente. Você pode começar a pescar com uma rede de pescar pequena e um puçá para lagostim. Melhores pescadores aprenderão, gradualmente, a usar uma vara com iscas, com iscas artificiais,  uma rede grande e até mesmo um arpão. Também está disponível o aprendizado da pesca bárbara (com as mãos) que exige que se desenvolva as habilidades de combate (força, ataque e defesa) e a agilidade.

Na parte da literatura mundial, os britânicos da Jagex gostam de brincar com a história. A missão "Romeu e Julieta" nos traz a clássica história da rivalidade das famílias e o padre amigo do casal, mas com um Romeu completamente desprovido de inteligência que não conseguirá ficar com Julieta sem sua ajuda. E o final, completamente diferente do original, é hilário. No mundo pago, onde estou atualmente (sim, já fiz todas as missões gratuitas do jogo!), pode-se conhecer Camelot, o rei Arthur, salvar Merlin e tornar-se um cavaleiro templário. 


Para os que não são tão crianças (como eu), é uma oportunidade de rever os clássicos e se sentir parte da história. Para os mais novos, uma oportunidade de conhecê-la. Você mesmo enfrentar desafios para salvar Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda é bastante interessante. Inúmeros seres mitológicos e lendários, como o dragão, o basilisco e a cocatriz, também poderão ser conhecidos. Uma ilha indígena, conhecida como Karamja, também é bastante interessante - você conhecerá a tribo de Tai Bo Wannai.


Rei Arthur, Merlin, Sir Lancelot e Tristão são alguns dos personagens encontrados em Camelot.
Fonte: http://runescape.com
As imagens acima são propriedade da Jagex Ltd.

Em resumo: Runescape agrada por todos estes motivos juntos: é um lugar onde podemos passar muitas horas de jogo sadio, sem pagar ou pagando pouco por mês (se esta for sua opção - tem planos que vão desde R$12,90 no mensal a aproximadamente R$ 160,00 no anual); integra toda a família ou sala de aula para aprendizado e troca de experiências mútuas (eu jogo muitas vezes com meu irmão, 12 anos mais novo, e conversamos quase todos os dias pelo chat do jogo, para resolver desafios e trocar experiências), podemos praticar outros idiomas (ele está disponível em inglês, português, francês e alemão, mas muitas vezes encontramos avatares estrangeiros aqui mesmo, no mundo brasileiro, principalmente do Canadá, EUA e Portugal); estimula a criatividade (muitos desafios fogem do comum e das respostas óbvias), o senso crítico e o raciocínio lógico do jogador.

Mas uma coisa é ainda um terrível ponto negativo no mundo brasileiro: o péssimo português digitado pelos jovens nas conversações. Não, não aquelas abreviações que já se tornaram parte dos usuários de mensagens instantâneas: mas grafias absurdamente erradas mesmo, revelando o pouco conhecimento ortográfico que alguns têm da própria língua. Entre algumas que vi apenas hoje posso listar "voutei", "ofença".  A Jagex possui uma "censura" nos textos de qualquer idioma, mas aqui em português ainda é pouco significativo. Você não pode "falar",  pois se digitar "falo" no texto isso é interpretado como o objeto fálico e não como o verbo. 
Um recurso muito utilizado para palavras proibidas é escrevê-las erradamente, o que só piora a situação gramatical. Até ofensas, que o censor do jogo proíbe em sua maioria, ficam hilárias. Hoje vi um "otaril" no jogo.


Imagem retirada da internet através do Google Search (Images).
Casseta & Planeta pertence à Rede Globo de TV.

Também na periferia o Runescape faz sucesso: vi em uma lan house bem simples, de apenas R$ 1,50 a hora, jovens jogando o Runescape, War of Warcraft e o Gunbound. Neste caso, mais para as matanças de duendes e outros monstros pelos jovens, ao mesmo tempo em que se comunicavam pelo Orkut e MSN, outros "detonadores" da língua portuguesa com sua "linguagem miguxês". Nossos colegas portugueses não cansam de comentar que brasileiro não sabe gramática, isso não só no Runescape, mas em comentários do YouTube e do Orkut, exemplo de outros sites que caíram no gosto popular brasileiro.




Abraço da
Anita

Um comentário:

  1. estou no nível 32 ,atk,30,def 23,forca 26 magic 20 mineraçao 40 fundisao 32 lenha 40 arte do fogo 45 total 493

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