domingo, 26 de outubro de 2008

Será que vale a pena o sacrifício?


Hoje estou muito chateada e com uma bronca danada. E vai sobrar para você, leitor deste humilde blog, ler a bronca e me responder: tenho razão ou não?

Faz tempo que não consigo postar nada. Também pudera: Estou fazendo jornada tripla. Trabalho o dia todo e estudo em dois lugares à noite.

Acordo às 5h da manhã. Entro no trabalho às 7h30min e prossigo até às 16h30min. Sigo direto para o cursinho pré-vestibular que começa às 18h50 e vai até às 22h15min. Chego em casa umas 23h.

Entro na internet. Pego a matéria do curso de Bacharelado de Sistemas de Informação que estou cursando, direto do site da faculdade, e vejo se os professores ou os colegas me mandaram algum e-mail. Já estou super cansada, claro. E muito triste. Eu fui praticamente obrigada a começar a frequentar um cursinho no último dia 14, desses superintensivos, por saber de última hora que vou ter que arcar com a minha moradia a partir do ano que vem. Isso significa ficar sem dinheiro para a faculdade, justo a faculdade - já que a saúde é inquestionável. E é horrível ter que escolher algo assim - é a minha profissão, o meu futuro - algo como - decida entre seu pai e sua mãe!

E eu ESCOLHI esta faculdade, não pensando que poderia ficar sem recursos no meio do curso. Falha minha. Estou prestando uma faculdade pública, que tem o mesmo curso, para poder transferir e continuar, mas com uma dor no coração imensa. Que Deus permita que eu tenha êxito nesta jornada. Não é tarefa fácil nem agradável. Eu saí de uma pública que não me permitia trabalhar, era elitista e segregava o que considerava a ralé. Saí de outra que também não me permitia trabalhar. Ambas aqui na capital. Por ironia do destino, agora tenho que ir para uma pública, onde nunca me senti bem-vinda.
Mesmo um amigo meu, universitário de uma pública do interior, que veio de transferência para cá por conta do emprego, encarou preconceito por ter conquistado a transferência, e ainda enfrentou uma paralisação por problemas com a reitoria da instituição. Mandou todos plantarem batatas e enfiarem seu orgulho de pública da capital naquele lugar - voltou para a faculdade de origem - trancando a vaga no emprego, também público - preferiu abrir mão do salário a agüentar uns topetudos metidos a besta, a começar pela coordenação do curso, que considerou que a transferência, embora fosse legítima, não impediria que o certificado de conclusão de curso do meu colega fosse expedido no nome da faculdade de origem (graaaaaaande coisa).
Durmo muito pouco. Sinto falta de dormir. Sinto falta de estar com meus amigos, meus grandes colegas da faculdade, e estou estudando e trabalhando intensamente por uma mudança de faculdade que é necessária, mas não é a vontade do meu coração. Isso também dói. Minha faculdade é EXCELENTE. Reconhecida no mercado de trabalho e entre os profissionais da área. Não precisa provar nada a ninguém. Não é "remendo" para quem "não passou" em "outra" faculdade. As empresas da área vão buscar os alunos para trabalhar lá dentro da faculdade, desenvolvem parcerias com o coordenador, tem inúmeras células acadêmicas e projetos em andamento. E eu mesma, este semestre, criei o meu projeto para iniciar ano que vem, que estava em discussão e criação conjunta com um professor orientador quando veio esta porrada.

Tenho um Governo que oferece programas assistenciais de bolsas de estudo para qualquer pessoa carente, desde que esta seja desempregada e que tenha estudado integralmente em escola pública.

Infelizmente, não posso participar destes programas por dois motivos: Eu TRABALHO, graças a Deus, e quase sempre estudei em escola particular, com bolsa parcial. Parei os estudos no início do 2º colegial, por problemas de saúde, e terminei meus estudos em um supletivo (pago). Fiz um supletivo muito bom, conhecido por ser puxado. Precisei fazê-lo justamente porque precisei parar de estudar para tratar da saúde, e quando voltei a estudar, realmente me ensinaram muito bem, 6 meses de estudo para cada ano perdido, ou seja, estudei 1 ano.

Hoje eu já pago um tratamento médico e psicoterápico que não é brinquedo (porque temos um SUS maravilhoso sabe? Faça o teste... Tente marcar uma especialidade! Vão dizer que primeiro tem que passar no clínico geral... e vão marcar o clínico pra daqui a 3 meses!!! É melhor não ter pressa!!! Ah e psicoterapia? A maioria dos postos de saúde não sabe o que é isso!!! E trate de se preparar para comprar seus remédios se forem de ALTO CUSTO, porque a burocracia toda leva em média 3 meses, dependendo dos exames que o médico for obrigado a pedir). Graças a Deus tenho um emprego estável, conquistado com o fruto dos estudos que já fiz até aqui, mas MAIS DA METADE do meu salário vai para os cuidados médicos/terapia/remédios.

Não é à toa que não pude parar de estudar ainda. Se quiser um dia ter um teto que possa chamar de meu, vou ter que melhorar e muito meu emprego, e isso só estudando. Ainda bem que me acostumei cedo. Agora que eu estou LOUCA da vida eu estou MESMO!!! As bolsas de estudo para as faculdades particulares privilegiam o aluno de escola pública, mas não dão a menor chance para a pessoa CARENTE de fato. Como muitas dessas bolsas assistenciais públicas. Eu morei em bairros carentes e acompanhei várias delas, na minha infância e adolescência. Os critérios são e sempre foram genéricos.
Para mudar este quadro, teria que ocorrer uma mudança sistêmica. Isso exigiria que os políticos parassem de ficar só no discursinho, descessem do palanque e fossem ver a realidade da rua. E contratassem muitas e boas assistentes e comunicadoras sociais para fazerem a triagem e acompanhamento das solicitações, DA POPULAÇÃO E PARA A POPULAÇÃO.

Os dois casos que cito a seguir relatam bem esta realidade aqui nos bairros em que morei, de pessoas que conheci, e de muitas outras. Muito diferentes da realidade de alguém que talvez tivesse que pegar uma condução a mais para tentar estudar em uma escola pública mais distante, porque não achou vaga na escola perto de casa. Uma realidade muito diferente daqueles que estudaram na escola pública porque não tiveram outra alternativa, por realmente não terem outra saída.

Tem gente que estudou em escola pública porque não queria estudar. O pai colocava em colégios caríssimos, período integral, três idiomas, a nata da sociedade. O moleque (gente finíssima) era expulso sumariamente de vários, e acabava na pública. Badernando muito mais do que bagunçou nas outras. Era tudo o que o jovem queria.

Muita gente de classe média preferia comprar carro bacana e tênis de marca do que pagar os estudos. O pai não queria gastar uma nota com colégio, porque queria dar uma vida boa para a família. Achava mais importante que o filho tivesse o último videogame lançado no mercado antes de todo mundo.

Garanto que tanto no primeiro caso como no segundo os jovens nunca pegaram um transporte coletivo no horário de pico nem foram a um posto de saúde esperar 3 meses pela consulta com o clínico geral. Mas a assistência social pública ainda é míope e não filtra quase nada, da mesma forma que nunca filtrou quem pegava leite na fila sem precisar, só pra revendê-lo mais barato que a padaria e sobrar um trocado para um cineminha, sem se importar com a mãe carente de fato que ia ficar sem alimentar o filho aquele dia.

Quanto ao outro fator determinante, NÃO ESTAR TRABALHANDO, este eu nem preciso comentar muito, porque todo mundo sabe como é fácil dizer que não se trabalha para ter este tipo de assistência... Afinal, a maioria da população em atividade econômica não trabalha com carteira registrada!!!

Eu estudei em colégios particulares sim, senhores governantes, porque me esforcei muito, minha mãe idem, para conseguir manter estes estudos, enquanto pudemos. Eu sempre estudei e tive bolsa parcial por boas notas. Minha mãe sempre trabalhou dobrado e eu não tinha muitos divertimentos para poder pagar os estudos. Nem mãe. Ela trabalhava fins de semana INCLUSIVE. Mesmo com bolsa parcial a mensalidade restante era alta para nós. Educação sempre foi e continua sendo algo importante, não só para nós, mas caso não tenha notado, para todos os empregadores do país, que diferente do atual presidente, precisam se manter estudando para ter vantagem competitiva no mercado globalizado. E diferente de muitos, não fiquei acomodada, procurei me informar e me politizar para escolher melhor esta turma que fica me representando por aí. Sou eleitora desde os 16 anos. Fora da escola, com a minha mãe trabalhando direto, quem acabou minha criação foram os livros e o mundo.

E agora, mesmo neste momento, eu tenho que me sustentar sim, pois é o que paga os remédios, o médico, o tratamento e o escambau que o serviço público de saúde não atende!!! Ou o que é pior: atende somente em alguns endereços, para poucos!!!

Eu só espero não perder, mais uma vez, noites de sono para fazer mais um vestibular, me alegrar com o resultado de ter passado, entrar na sala de aula e descobrir que o curso exigirá que eu não trabalhe de novo. É bom que eles tenham descoberto que a maioria da população mundial vive do seu próprio sustento, e que é altamente recomendável que você pratique o que está estudando. Ou pior ainda, que façam greve, algo comum na pública. Neste caso, não sei o que farei, mesmo precisando do meu diploma.

Bem, com certeza este post ficou enorme... como minha indignação com a falta de assistência político-social pública!!!


Abraço da


****Anita****

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