quinta-feira, 16 de maio de 2013

Rótulos personalizados à escolha



Vai um rótulo aí? =P
Está na moda procurar um médico para tudo. Ao iniciar uma conversa com qualquer pessoa, é quase certo que você vai ouvir pelo menos três diagnósticos recentes. Ficar doente nunca esteve tão na moda: os hospitais e a indústria farmacêutica prosperam a olhos vistos.

Já chegou ao Brasil a última palavra em medicina: o Superdiagnóstico! Mas que fique claro: só fica doente quem tem convênio ou dinheiro para bancar. No mais, continua no interior brasileiro a lenga-lenga da falta de profissionais e trata-se de se sobreviver sem atendimento médico.

Hoje em dia as pessoas não têm mais uma dor de cabeça comum. Podem ter cefaleia em salvas, enxaqueca, dor de cabeça tensional, hemicranias paroxísticas, e por aí vai. Já existem mais de 150 tipos de dor de cabeça! Todo mundo pode ter a sua própria dor de cabeça e se sentir especial.

Também ninguém mais tem problema de coluna. Os problemas cervicais, do tórax e lombares se multiplicaram e se especializaram. Nem tem mais artrite. As artrites hoje são um primor! Eu mesma tenho uma, rara, de condição genética, herdada do meu pai – do jeito que os médicos falam, até parece que você ganhou na loteria. Chama-se Espondilite Anquilosante.

Mas em termos de rótulos, acredito que ninguém ganha da psiquiatria. Duvido que você saia de um consultório psiquiátrico sem um (hehehe)! Dizem que um psiquiatra faz tratamento com outros dois: um psicólogo e um colega! Brincadeiras a parte, hoje em dia ninguém fica triste – diz logo que está deprimido. Este é um terreno obscuro. A Depressão pode ser por causa de uma gravidez, pós-parto, sazonal (inverno), uma distimia (a forma mais grave). Não é uma tristezazinha qualquer. Claro, se quiser, você pode ganhar um rótulo também – basta ir ao psiquiatra mais próximo! Um conto que me diverte sobre o tema “psiquiatria” é um conto do nosso amigo Machado de Assis, chamado O Alienista (pode ser lido e baixado gratuitamente aqui - http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/download/O%20Alienista.pdf). Outro livro bem legal sobre médicos em geral é o Risite Aguda - um livrinho com piadas sobre o tema - consulte aqui o Buscapé - http://compare.buscape.com.br/risite-aguda-as-melhores-piadas-de-medicos-paulo-tadeu-8587431692.html#precos

Eu chamaria isso de "macaquinhos no sótão"

 source: http://osorrisodadiferenca.weebly.com

O motivo deste texto todo? Ora, hoje em dia ganhamos tantos rótulos que esquecemos que continuamos sendo SERES HUMANOS, e não ratos de laboratório passando por algum experimento! Eu mesma levei muito tempo para me dar conta disto. Comecei tratamento psiquiátrico há 13 anos. No começo, achei que nunca mais teria vida normal: efeitos colaterais dos vários remédios, trocados constantemente; o fato de não poder confiar na própria cabeça algumas vezes - afinal a doença é psiquiátrica, e a descoberta de sintomas que você não percebia que tinha, pelo médico, são coisas que perturbam. Tive diversos diagnósticos por diversos psiquiatras, mas a maioria concorda com Transtorno Afetivo Bipolar Tipo 2, então acredito que eu me trato disso. As dores lombares e cervicais aumentaram (devido a lombalgias, a fibromialgia e à Espondilite Anquilosante), já convivo com a dor no corpo todo há três anos - o Mirtax não faz mais o menor efeito.  Levei muito tempo para acertar um tratamento. Não consegui estudar nem trabalhar neste período de troca-troca de remédios, médicos e diagnósticos. Até que, um dia, me dei conta que não poderia esperar acordar “tratada” em uma bela manhã para começar minha vida. Ela tinha que acontecer, APESAR disto. Não foi fácil, não. Mas deu.

Tive que me adaptar, claro. Não dava para estudar como os outros estudam - diariamente, em uma faculdade, em turma, dormindo pouco. Os remédios psiquiátricos não permitem dormir pouco. Entrei para a primeira turma de EAD da USP (Licenciatura em Ciências), e foi um sucesso - estudava em casa de segunda a sexta e ia para a faculdade aos sábados. Se não tivesse feito as cirurgias estaria ainda lá! Mantenho contato com os colegas pelo Facebook e pretendo prestigiar a formatura deles. (Não é permitido trancar o primeiro ano na USP)

Vou repetir a dose, desta vez no EAD da UAB - tem um curso mais aproximado aos meus interesses. Recomendo a todos que pretendem cursar uma faculdade à distância, a pesquisarem o site da UAB primeiro. Tem no Brasil todo, conta com inúmeros cursos de prestigiadas universidades. Por enquanto, faço uns cursos técnicos para me atualizar no meu trabalho. Talvez faça um EAD na área da empresa em que trabalho também.

Caro leitor, digo a você, especialmente se tem algum problema psiquiátrico e se retraiu por conta disso (como eu também me isolei): dá sim! Você consegue! E se você sofre dores terríveis na coluna, de ter que tomar fortes injeções como eu de tempos em tempos, e não aguenta pegar as conduções para ir e voltar - no EAD não precisa pegar condução! A não ser que o curso exija laboratório, como o meu exigia, claro - neste caso obtenha mais informações sobre o curso desejado diretamente na própria instituição de ensino.

Algumas das ferramentas utilizadas no Ensino a Distância

source: Google Images

Saiba mais sobre EAD neste link: http://eadeducacaoparatodos.blogspot.com.br/ e sobre a UAB neste link: http://www.uab.capes.gov.br/

O mesmo aconteceu com o emprego. Trabalhei como vendedora ambulante muito tempo. Foi de tanto carregar peso nesta época da minha vida que (eu acho) estraguei a coluna. Depois de estudar bastante passei em um concurso público, onde estou até hoje. Mas não é simples - eu tenho que fazer tarefas que não sejam urgentes ou de alta prioridade, por exemplo. Se eu falto para ir ao pronto socorro, como meu chefe fica? E se eu fico internada? Faço tarefas simples e que podem ser realizadas por produção e não por prazo. Mas não foi fácil chegar na fase de hoje; tive ajuda da assistente social, do médico do trabalho, da área de recursos humanos e do meu próprio chefe para chegar neste consenso.

Hoje eu tenho que pagar um trecho do percurso de táxi do meu bolso (por causa da cirurgia na perna) e procuro chegar bem cedo e sem ter pressa para ir embora. Mesmo que a demanda seja baixa, que eu tenha faltado no dia anterior, quero que meu chefe saiba que pode contar comigo apesar dos problemas e que estou à disposição. Também procuro fazer todos os cursos que a empresa oferece de atualização técnica. Outra coisa que faço é manter minha mesa no escritório atualizada com boas gramáticas e dicionários, e compro o meu próprio material de escritório - esta última coisa para dar aquele "toque feminino". Não acho que sou muito caprichosa, mas procuro fazer o meu melhor.

A Escola Virtual da Fundação Bradesco (http://www.ev.org.br/Paginas/Home.aspx) e o site Be-a-Byte (http://www.beabyte.com.br/) são exemplos de lugares onde você pode aperfeiçoar seus conhecimentos sem gastar nada!

O site do Be-a-Byte é especialmente indicado para iniciantes no EAD.

source: alvorea.blogspot.com


Entristeceu-me muito um caso que acompanhei de perto. Ele tem Síndrome de Asperger (mais um rótulo, este em desuso). Ele é epilético. Os pais o criaram numa redoma. Conhecer alguém e namorar parecia um horror para os pais: ele começou a sair de casa, a conviver com outras pessoas sem a presença dos pais por perto, escolheu uma religião, aprendeu a fazer faxina em casa, a guardar as compras do supermercado na geladeira, até o lugar dos talheres na cozinha – tudo era novo para ele! Os pais subestimavam – e subestimam – suas capacidades. Por menos de meia dúzia de pontos não entrou na USP.  Foi fazer uma particular.

Foi quando conheceu a namorada: ele fazia a faculdade e ela o cursinho no mesmo prédio. Fizeram cursos juntos no CIEE, e para minha surpresa não fez estágio – descobri depois que, quando ligavam na casa dele, a mãe dizia que ele já estava trabalhando – por não acreditar que ele era capaz de trabalhar! A namorada o convenceu a fazer inglês – fez quatro anos no Cultura Inglesa. Teve medo do FCE e parou. Depois fizeram curso preparatório para concursos. Ele fez Kumon, completou o curso todinho. Ele tem uma memória excepcional. Se perguntarem a ele o 3º colocado na Copa de 30, ele sabe. Entretanto, para os pais, ele é apenas um epilético com Síndrome de Asperger, incapaz de se cuidar e de tomar decisões.

Todos temos nossas dificuldades, sendo considerados “normais” ou não. Eu não sei mais o que é não sentir dor no corpo todo há mais de três anos – tenho fibromialgia. Muita gente tem e vive assim mesmo. Considero-me com menos problemas do que uma pessoa que mora num barraco, à margem da sociedade e em meio ao lixo, por exemplo. Quer ver vários exemplos de superação? Faça uma visitinha à AACD, ou entidade semelhante, na sua cidade. Não importam os problemas, pense nas soluções que você pode dar a eles! Se estiver com dificuldades, liste tudo num bloco de notas. Peça a opinião de alguém neutro. Pesquise.

Os pais do caso acima não são os únicos a pensarem assim. Quantos anos eu não me autocritiquei por meus problemas psiquiátricos, pela espondilite, pela fibromialgia, etc.? Quantas pessoas não se julgam incapazes por suas limitações? O rapaz do caso acima mesmo não usou o diploma, nem para trabalhar por conta própria. Agora, no segundo semestre, vai voltar para a faculdade e fazer outra graduação. E vejo cada vez mais pessoas com receio de se arriscar, cada vez mais presas a rótulos, se sentindo “especiais” demais para empreenderem na jornada da vida.

Quanto mais NÃOS você pensar em sua cabeça, mais NÃOS irão crescer nela!!!

source: isaias40.wordpress.com

Se eu seguisse todos os conselhos médicos que já ouvi, estaria aposentada antes dos 30 anos de idade. Não vou mentir: sou teimosa. Enquanto eu tiver dois braços e duas pernas, vou tentar trabalhar, evoluir. Também não vou mentir que tem dias que tenho vontade de desistir de tudo. Tem dias que realmente não consigo sair da cama – literalmente – presa por uma lombalgia, ou de fibromialgia, ou pior – as duas juntas. Também já procurei ajuda em hospitais psiquiátricos várias vezes. Tem pessoas que nunca vão te cumprimentar ou te chamar para um almoço por te acharem um ser de outro planeta. Nem todo mundo vai entender os motivos de você faltar e continuar empregado, com tanta gente desempregada no mercado. Mas você tem que fazer valer a pena, ou procurar a sua própria solução - como ter seu próprio negócio ou trabalhar em casa, por produção, sem horário fixo.

Nessas horas de desistência, procuro lembrar-me da minha imagem quando criança, adolescente, sempre muito esforçada e questionadora, esbanjando saúde e com muitos sonhos. Se eu desistir, o que direi para a criança e jovem que fui? Também olho no futuro, para a minha velhice. Ficaria acabada antes do tempo, por falta de estímulos, e pobre (depender do INSS ninguém merece).

Tem uma cena engraçada que eu sempre me lembro, eu vi no programa do Jô Soares anos atrás. Ele entrevistou o Luís Fernando Guimarães e, durante a entrevista, várias “degustações” do seu trabalho foram apresentadas – não só a veia cômica, mais conhecida do público em geral. Entre estas, ele mostrou um exercício muito conhecido por quem estudou teatro – imitar uma garça. Ele se preparou, se posicionou e, quando o Jô Soares disse: “Vai, garça!” – uma garça atravessou o cenário – o próprio Luís Fernando. Idêntico! Resultado de muito treino, claro, fez de forma tão hábil que era a própria garça desfilando.

Não achei a entrevista original, mas ele faz a garça no Jô neste outro vídeo no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=EIyoIM0BiNM (mas esta não está tão legal quanto a que eu vi...)

Então, faça como o Luís Fernando: escute a vozinha dentro de você querendo evoluir, crescer na vida, o seu “Vai, garça!” e faça o seu melhor. Como disse um professor do cursinho uma vez para mim, mire na lua. Se você errar, pelo menos estará entre as estrelas.


source: gleidson-melo.blogspot.com


Espero que este post tenha sido útil para você!
Obrigada pela leitura.

Anita

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